
Além da Janela - Poemas de Biláh Bernardes e outros
Enxergar além da janela é participar do que a natureza nos oferece ao olhar; é ver e ler a poesia além do nosso sentimento e da vida que nos cerca. Boa leitura para você que nos visita! Bilá Bernardes
2 de abr. de 2025
18 de abr. de 2021
Poemas de Márcia Araújo e Biláh declamados por Anand Rao
Se és poeta, Anand Rao quer recitar teu poema e te convida a participar do Sarau.
Envie WhatsApp para 61 982027100.
Assista o trabalho Inscrevendo-se e ativando as notificações do canal, para que possamos ranquear bem no algoritmo do You Tube
3 de mai. de 2020
De Helenice Rocha, A Lírica Feminina Contemporânea - Helenice Maria Reis Rocha - Mestre em Letras/UFMG
HELENICE MARIA REIS ROCHA
A Lírica Feminina Contemporânea
Helenice Maria Reis Rocha - Mestre em Letras/UFMG
Pensando nas manifestações de poesia veiculadas por meios de comunicação de massas, tais como: sites de poesia, movimentos organizados, discussões midiáticas, tenho me proposto a pensar em que sentido a dicção feminina circulando nestes meios se aproxima ou acrescenta novas linguagens e formas de expressão à lírica grega. Se pensarmos nos trabalhos de Benjamin a respeito da lírica simbolista observaremos que esta lírica acrescenta à uma dicção, uma crítica contundente ao mundo capitalista.
Tenho pensado, como Salete Almeida Cara, que a lírica feminina contemporânea que circula entre a internet e a mídia impressa tem incorporado às suas formas de expressão vivências que rediscutem o lugar de enunciação do que define o feminino ou o masculino na poesia. Saindo das metáforas da morte de Henriqueta Lisboa, lindas metáforas de mocinha cristã, às jovenzinhas martirizadas do panteon de santinhas de Cecília Meireles, desaguamos numa dicção lírica que nos remete ao prazer,à psicanálise,à luta política,com a mesma delicadeza imagética de uma dicção lírica.
Pretendo analisar aqui algumas poetisas do movimento Poetasdelmundo que, com dicção própria, expressam com a maior delicadeza problemas e sensibilidades possivelmente impossíveis para mulheres poetisas ha cinquenta anos atrás.
Começo pela jovem Isabela que nos diz: “Titia!!! Titia!!! Eu sou a mãe do vento!!! O vento não morre titia!! E ele é feliz!!!...”. Uma jovenzinha de, então, três anos que, há uns cinquenta anos atrás estaria cantando canções religiosas em algum colégio de freiras e, aos três aninhos, hoje, já estava tentando entender a vida, a morte, o tempo, o gozo... Segundo Mouralis: “A literatura é compromisso. Os escritores, como tais, têm uma função social definida, exatamente proporcional à sua competência como escritores. Essa é a sua principal utilidade”... (Mouralis, 1982, pág: 36).
Assim, poetisas que com uma dicção lírica, nos traduzem como linguagem, formas de discussão que rediscutem as questões de gênero, tanto no que diz respeito à linguagem quanto no que diz respeito ao seu lugar de enunciação. Cumprem a responsabilidade apontada por Mouralis.
Começo por Maria Angélica em: BRAÇOS ABERTOS Olha moço, que bela cidade / se descortina / à frente de nossos passos / Parece menina / Depois da chuva / livre do pó / a cidade remoça / Veja as pessoas / caminhando tranquilas / Não é dia de trabalho / Alguns trabalham / ambulando suas mercadorias / próximo à rodoviária Não há pressa , o dia é longo / quase deserta / a cidade recebe o visitante / e o habitante / que regressa à capital / Belo Horizonte / recebe de braços abertos (Bernardes, pág:25, 2012 ) O que se evidencia neste poema é que, imanente à serenidade solene que descreve a cidade e o visitante, existe uma anti elegia ao mundo da produção, tão precioso às lógicas de um discurso hegemônico que inclusive, no Futurismo de Marinetti, procura dar uma face de modernidade ao já bem conhecido projeto de desenvolvimentismo capitalista. Esta evidente recusa a um dia produtivo recusa, mesmo que através da magia da arte, a lógica de um discurso hegemônico e suas hierarquias. A beleza da cidade se torna mais importante do que a lógica da produção e suas hierarquias e seus negócios, o que garante à esta dicção uma doce modernidade uma vez que não reproduz a tirania do discurso oficial:
Bandeira Branca Um olho uma gota o suspiro Sorriso lacrimejante Um pedido Um apelo a dúvida Mãos desejam Um ai Um ui a dor Dentes rangem Um alívio Um amor a paz Pés almejam (Marques, pág: 29, 2012) Se a utopia nos coloca na plena realização do desejo e diz: o prazer aos bem resolvidos pela psicanálise, esta dicção instaura a dúvida. Cumpre saber quem são os bem resolvidos nesta correlação de forças hodierna. O amor possível em: “Um ai, Um ui, a dor Dentes rangem, Um alívio, Um amor, a paz...” (Marques, pág: 29, 2012). Um amor possível diz respeito ao momento, à efemeridade, longe dos acordos de conveniência à socialização do amor, que as perdas das situações paradigmáticas impõem. Os marcados por doze horas de trabalho talvez, apesar das leis trabalhistas, perdem a definição do desejo segundo Benjamim: “... Os gregos só conheciam dois processos para a reprodução de obras de arte: o molde e a cunhagem. As moedas e terracotas eram as únicas obras de arte por eles fabricadas em massa. Todas as demais eram únicas e tecnicamente irreprodutíveis. Por isto, precisavam ser únicas e construídas para a eternidade. Os gregos foram obrigados, pelo estágio de sua técnica,a produzir valores eternos.” (Benjamim, pág:175, 1996).
Se pensarmos que a linguagem poética, em si, representa algumas incompatibilidades com esta reprodutibilidade, podemos associá-la permanentemente à lírica grega e a uma certa intemporal idade.
Retomemos Delasnieve Daspet em: Mão Humana Uma mão humana. Uma mão com cinco dedos / Foi assim que o Criador fez.../ Cada dedo independente, unidos e separados... / Se juntássemos os dedos / - a força aumentaria / Teríamos mais poder, mais união. / Deixemos que a terra se torne / esta mão forte e unida / assim venceremos as lutas diárias / a miséria de milhões de africanos / de esquálida figura e doce olhar! / Mortes pelo Oriente Médio... Chacina / - não é necessário iir tão longe / Mandamos soldados para o Haiti, / Mas o Haiti é aqui, como diz a canção... / (...) (Daspet, pág: 68, 2008) Da simples descrição de uma singela mão e seus dedos à associação com a leitura ética, civilizatória, da realidade do mundo: a linguagem, coloquial, de massas, a leitura de mundo, complexa, perpassando a condição humana para além da territorialidade aldeã no seu dilema básico: a vida. A coloquialidade da linguagem tendo como imanência uma leitura civilizatória de grande alcance não reprodutível pelos interesses envolvidos na lógica do discurso oficial, hegemônico.
A lírica de Camões, partindo da redondilha, da linguagem reprodutível e de massa, disse da complexidade do amor explicitando, através do paradoxo, quase do absurdo, o lugar de enunciação de onde emerge a sua aparente simplicidade.
Segundo Bahbha: “... Não passará a linguagem da teoria de mais um estratagema da elite ocidental culturalmente privilegiada para produzir um discurso do outro que reforça sua própria equação conhecimento-poder!” (Bahbha, pág: 45, 1998). O discurso feminino, marcado pela maternidade, paramentado para desconstruir relações de poder.
Então, em Clevane, temos: A última cavalgada / os homens mortos estão: pura nata/ calda vermelha óleo e sabão, / coalhando os campos de batalha... / sem preces e sem mortalha / nem quem lhes segure a mão ... (Pessoa, pág:35,2005)
Enquanto loguz, invenção de homens personificada por Heráclito pressupõe a unidade da confrontação permanente tornando o grotesco tão natural quanto o sublime, a caótica linguagem feminina nos reconduz ao sentido maior de uma singela mão segurando outra mão.
Todas estas poetisas, descentradas da máscula linguagem de loguz, da razão iluminadora, de todas as certezas, de todo centro. (Brandão, pág. 34, 1998) trazem a dúvida, a fragmentação que batiza a modernidade com a presença do outro, da alteridade. A lógica da identidade que une através do verbo ser os opostos, o sublime e o grotesco, o perfume e o lodo é perpassada aqui pela dúvida em Brenda Marques, por lindas e insólitas metáforas de homem em Clevane, pela dessacralização das guerras em Delasnieve, pela suave anti elegia do modo de produção capitalista em Maria Angélica.
Segundo Heráclito: Se não ouvirem simplesmente a mim mas se tiverem ascultado (obedecendo-lhe, na obediência) o logoz, então é um saber (que consiste em) dizer igual o que diz o logoz. Tudo é um (Heráclito In: HEIDEGGER, pág:256) A metáfora conceitual, como por exemplo: “... aquele rio era como um cão sem plumas...” (João Cabral de Melo Neto) une verbo ser a um predicativo exatamente como na proposta pré socrática de Heráclito, que, sintagmática, une os opostos pelo verbo ser o que é bem confortável para a lógica dos discursos hegemônicos que sobrevivem da boa convivência dos contrários. Une as aporias garantindo a perpetuação de determinado tipo de poder.
Em Maria Angélica Bernardes, tanto quanto em Clevane e mesmo em Brenda e Delasnieve observamos uma recorrência permanente a verbos de ação em lugar do verbo ser. Neste sentido é recorrente uma gradação de ruptura com a estrutura de linguagem ocidental, aristotélica. A linguagem poética sai do campo conceitual para o campo descritivo da ação, Poetisas saindo da contemplação da realidade, própria daqueles a quem foi negada a práxis e deságuam na junção práxis, ativismo e linguagem, uma vez que são ativistas de Poetasdelmundo. Saem, também através de uma nova estrutura de linguagem, do confortável voyerismo de observar e conceituar o caldo de cultura em que estamos imersos e descrevem ou se expressam através da linguagem da práxis, representada mais por verbos de movimento do que pelo verbo de identidade, conceituador.
Partindo deste escopo de reflexões venho desaguar em Neusa Ladeira. Vejamos: Poética das Horas / Trinando acordo / Tico-tico rei /Suave complementa / Abrindo surdos / As araras do vizinho / Estridentes nos golpeiam / Sonho breve em fuga luz Como não ver se olhos choram / Coração aperta ruge emoção / Ansiosa vai à busca / No início resoluta no traçado cambiante / Em final hilariante / Mesmo dito ainda pergunta / Dos lençóis amarfanhados / Onde está o estonteante / Aquele sonho recorrente / Ora chega na lembrança / Nada mesmo de saudade só terror asfixiante... (Ladeira, 2009) Assim como nos poemas anteriores, toda a estrutura de linguagem é alinhavada por verbos de ação. A lírica contemplativa de uma Cecília Meireles em: “... leve é o pássaro e a sua sombra voante...”, cede lugar a um trinante acordo de pássaros, com direito à criação do verbo trinar usado aqui como verbo e, ao mesmo tempo, adjetivo. Este movimento de uma linguagem contemplativa, conceitual, a uma linguagem que nos aproxima da ação, práxis, nos remete à diferença de possibilidades circunscritas à condição feminina do começo do século vinte, onde só era possível observar a práxis feminina como tabu migrando para a práxis mesma, refletida esta transformação em mudança na estrutura da linguagem sem , contudo, perder o sentido suspenso de toda a linguagem poética, que no mais das vezes nos tira das noções de tempo e espaço.
Os gregos não consideravam poesia, literatura rasura esta que nos autoriza ao devaneio.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
- Brasil, Joaquim Fontes. Variações sobre a lírica de Safo. São Paulo:Ed.Estação da Liberdade,1992.
- Brandão, Junito de Sousa. Dicionário mítico-etimológico da mitologia grega. Petrópolis: Vozes, 1993.
- Branco, Lucia Castello, Brandão, Ruth Silviano. A mulher escrita. Rio de Janeiro: Milman, 1989.
- Derrida, Jaques. Gramatologia. São Paulo: Perspectiva, 1973.
- Heidegger, Martim. Heráclito. Rio de Janeiro: Dumará, 1998.
- Braga, Anderson. Sonata Poética. Belo Horizonte, Anome Livros, 2005.
- Bhabha, Homi K. O Local da Cultura. Editora UFMG, 1998.
- Benjamin, Walter. Magia e Técnica Arte e Política. Editora brasiliense, 1985.
- Poetasdelmundo em Poesias, Volume I, I Congresso Mundial de Poetasdelmundo, Natal, Um Mar de Poesia e Paz.
- Salgado, Rogério, Araújo, Virgilene. Poetas Em Cena. Belô Poético Produções Artísticas e Literárias. Belo Horizonte, 2012.
- Pena, Brenda Marques. Instituto da Imersão Latina. Nós da Poesia. All Print Editora, 2009.
Helenice Maria Reis Rocha - Mestre em Letras/UFMG
Pensando nas manifestações de poesia veiculadas por meios de comunicação de massas, tais como: sites de poesia, movimentos organizados, discussões midiáticas, tenho me proposto a pensar em que sentido a dicção feminina circulando nestes meios se aproxima ou acrescenta novas linguagens e formas de expressão à lírica grega. Se pensarmos nos trabalhos de Benjamin a respeito da lírica simbolista observaremos que esta lírica acrescenta à uma dicção, uma crítica contundente ao mundo capitalista.
Tenho pensado, como Salete Almeida Cara, que a lírica feminina contemporânea que circula entre a internet e a mídia impressa tem incorporado às suas formas de expressão vivências que rediscutem o lugar de enunciação do que define o feminino ou o masculino na poesia. Saindo das metáforas da morte de Henriqueta Lisboa, lindas metáforas de mocinha cristã, às jovenzinhas martirizadas do panteon de santinhas de Cecília Meireles, desaguamos numa dicção lírica que nos remete ao prazer,à psicanálise,à luta política,com a mesma delicadeza imagética de uma dicção lírica.
Pretendo analisar aqui algumas poetisas do movimento Poetasdelmundo que, com dicção própria, expressam com a maior delicadeza problemas e sensibilidades possivelmente impossíveis para mulheres poetisas ha cinquenta anos atrás.
Começo pela jovem Isabela que nos diz: “Titia!!! Titia!!! Eu sou a mãe do vento!!! O vento não morre titia!! E ele é feliz!!!...”. Uma jovenzinha de, então, três anos que, há uns cinquenta anos atrás estaria cantando canções religiosas em algum colégio de freiras e, aos três aninhos, hoje, já estava tentando entender a vida, a morte, o tempo, o gozo... Segundo Mouralis: “A literatura é compromisso. Os escritores, como tais, têm uma função social definida, exatamente proporcional à sua competência como escritores. Essa é a sua principal utilidade”... (Mouralis, 1982, pág: 36).
Assim, poetisas que com uma dicção lírica, nos traduzem como linguagem, formas de discussão que rediscutem as questões de gênero, tanto no que diz respeito à linguagem quanto no que diz respeito ao seu lugar de enunciação. Cumprem a responsabilidade apontada por Mouralis.
Começo por Maria Angélica em: BRAÇOS ABERTOS Olha moço, que bela cidade / se descortina / à frente de nossos passos / Parece menina / Depois da chuva / livre do pó / a cidade remoça / Veja as pessoas / caminhando tranquilas / Não é dia de trabalho / Alguns trabalham / ambulando suas mercadorias / próximo à rodoviária Não há pressa , o dia é longo / quase deserta / a cidade recebe o visitante / e o habitante / que regressa à capital / Belo Horizonte / recebe de braços abertos (Bernardes, pág:25, 2012 ) O que se evidencia neste poema é que, imanente à serenidade solene que descreve a cidade e o visitante, existe uma anti elegia ao mundo da produção, tão precioso às lógicas de um discurso hegemônico que inclusive, no Futurismo de Marinetti, procura dar uma face de modernidade ao já bem conhecido projeto de desenvolvimentismo capitalista. Esta evidente recusa a um dia produtivo recusa, mesmo que através da magia da arte, a lógica de um discurso hegemônico e suas hierarquias. A beleza da cidade se torna mais importante do que a lógica da produção e suas hierarquias e seus negócios, o que garante à esta dicção uma doce modernidade uma vez que não reproduz a tirania do discurso oficial:
Bandeira Branca Um olho uma gota o suspiro Sorriso lacrimejante Um pedido Um apelo a dúvida Mãos desejam Um ai Um ui a dor Dentes rangem Um alívio Um amor a paz Pés almejam (Marques, pág: 29, 2012) Se a utopia nos coloca na plena realização do desejo e diz: o prazer aos bem resolvidos pela psicanálise, esta dicção instaura a dúvida. Cumpre saber quem são os bem resolvidos nesta correlação de forças hodierna. O amor possível em: “Um ai, Um ui, a dor Dentes rangem, Um alívio, Um amor, a paz...” (Marques, pág: 29, 2012). Um amor possível diz respeito ao momento, à efemeridade, longe dos acordos de conveniência à socialização do amor, que as perdas das situações paradigmáticas impõem. Os marcados por doze horas de trabalho talvez, apesar das leis trabalhistas, perdem a definição do desejo segundo Benjamim: “... Os gregos só conheciam dois processos para a reprodução de obras de arte: o molde e a cunhagem. As moedas e terracotas eram as únicas obras de arte por eles fabricadas em massa. Todas as demais eram únicas e tecnicamente irreprodutíveis. Por isto, precisavam ser únicas e construídas para a eternidade. Os gregos foram obrigados, pelo estágio de sua técnica,a produzir valores eternos.” (Benjamim, pág:175, 1996).
Se pensarmos que a linguagem poética, em si, representa algumas incompatibilidades com esta reprodutibilidade, podemos associá-la permanentemente à lírica grega e a uma certa intemporal idade.
Retomemos Delasnieve Daspet em: Mão Humana Uma mão humana. Uma mão com cinco dedos / Foi assim que o Criador fez.../ Cada dedo independente, unidos e separados... / Se juntássemos os dedos / - a força aumentaria / Teríamos mais poder, mais união. / Deixemos que a terra se torne / esta mão forte e unida / assim venceremos as lutas diárias / a miséria de milhões de africanos / de esquálida figura e doce olhar! / Mortes pelo Oriente Médio... Chacina / - não é necessário iir tão longe / Mandamos soldados para o Haiti, / Mas o Haiti é aqui, como diz a canção... / (...) (Daspet, pág: 68, 2008) Da simples descrição de uma singela mão e seus dedos à associação com a leitura ética, civilizatória, da realidade do mundo: a linguagem, coloquial, de massas, a leitura de mundo, complexa, perpassando a condição humana para além da territorialidade aldeã no seu dilema básico: a vida. A coloquialidade da linguagem tendo como imanência uma leitura civilizatória de grande alcance não reprodutível pelos interesses envolvidos na lógica do discurso oficial, hegemônico.
A lírica de Camões, partindo da redondilha, da linguagem reprodutível e de massa, disse da complexidade do amor explicitando, através do paradoxo, quase do absurdo, o lugar de enunciação de onde emerge a sua aparente simplicidade.
Segundo Bahbha: “... Não passará a linguagem da teoria de mais um estratagema da elite ocidental culturalmente privilegiada para produzir um discurso do outro que reforça sua própria equação conhecimento-poder!” (Bahbha, pág: 45, 1998). O discurso feminino, marcado pela maternidade, paramentado para desconstruir relações de poder.
Então, em Clevane, temos: A última cavalgada / os homens mortos estão: pura nata/ calda vermelha óleo e sabão, / coalhando os campos de batalha... / sem preces e sem mortalha / nem quem lhes segure a mão ... (Pessoa, pág:35,2005)
Enquanto loguz, invenção de homens personificada por Heráclito pressupõe a unidade da confrontação permanente tornando o grotesco tão natural quanto o sublime, a caótica linguagem feminina nos reconduz ao sentido maior de uma singela mão segurando outra mão.
Todas estas poetisas, descentradas da máscula linguagem de loguz, da razão iluminadora, de todas as certezas, de todo centro. (Brandão, pág. 34, 1998) trazem a dúvida, a fragmentação que batiza a modernidade com a presença do outro, da alteridade. A lógica da identidade que une através do verbo ser os opostos, o sublime e o grotesco, o perfume e o lodo é perpassada aqui pela dúvida em Brenda Marques, por lindas e insólitas metáforas de homem em Clevane, pela dessacralização das guerras em Delasnieve, pela suave anti elegia do modo de produção capitalista em Maria Angélica.
Segundo Heráclito: Se não ouvirem simplesmente a mim mas se tiverem ascultado (obedecendo-lhe, na obediência) o logoz, então é um saber (que consiste em) dizer igual o que diz o logoz. Tudo é um (Heráclito In: HEIDEGGER, pág:256) A metáfora conceitual, como por exemplo: “... aquele rio era como um cão sem plumas...” (João Cabral de Melo Neto) une verbo ser a um predicativo exatamente como na proposta pré socrática de Heráclito, que, sintagmática, une os opostos pelo verbo ser o que é bem confortável para a lógica dos discursos hegemônicos que sobrevivem da boa convivência dos contrários. Une as aporias garantindo a perpetuação de determinado tipo de poder.
Em Maria Angélica Bernardes, tanto quanto em Clevane e mesmo em Brenda e Delasnieve observamos uma recorrência permanente a verbos de ação em lugar do verbo ser. Neste sentido é recorrente uma gradação de ruptura com a estrutura de linguagem ocidental, aristotélica. A linguagem poética sai do campo conceitual para o campo descritivo da ação, Poetisas saindo da contemplação da realidade, própria daqueles a quem foi negada a práxis e deságuam na junção práxis, ativismo e linguagem, uma vez que são ativistas de Poetasdelmundo. Saem, também através de uma nova estrutura de linguagem, do confortável voyerismo de observar e conceituar o caldo de cultura em que estamos imersos e descrevem ou se expressam através da linguagem da práxis, representada mais por verbos de movimento do que pelo verbo de identidade, conceituador.
Partindo deste escopo de reflexões venho desaguar em Neusa Ladeira. Vejamos: Poética das Horas / Trinando acordo / Tico-tico rei /Suave complementa / Abrindo surdos / As araras do vizinho / Estridentes nos golpeiam / Sonho breve em fuga luz Como não ver se olhos choram / Coração aperta ruge emoção / Ansiosa vai à busca / No início resoluta no traçado cambiante / Em final hilariante / Mesmo dito ainda pergunta / Dos lençóis amarfanhados / Onde está o estonteante / Aquele sonho recorrente / Ora chega na lembrança / Nada mesmo de saudade só terror asfixiante... (Ladeira, 2009) Assim como nos poemas anteriores, toda a estrutura de linguagem é alinhavada por verbos de ação. A lírica contemplativa de uma Cecília Meireles em: “... leve é o pássaro e a sua sombra voante...”, cede lugar a um trinante acordo de pássaros, com direito à criação do verbo trinar usado aqui como verbo e, ao mesmo tempo, adjetivo. Este movimento de uma linguagem contemplativa, conceitual, a uma linguagem que nos aproxima da ação, práxis, nos remete à diferença de possibilidades circunscritas à condição feminina do começo do século vinte, onde só era possível observar a práxis feminina como tabu migrando para a práxis mesma, refletida esta transformação em mudança na estrutura da linguagem sem , contudo, perder o sentido suspenso de toda a linguagem poética, que no mais das vezes nos tira das noções de tempo e espaço.
Os gregos não consideravam poesia, literatura rasura esta que nos autoriza ao devaneio.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
- Brasil, Joaquim Fontes. Variações sobre a lírica de Safo. São Paulo:Ed.Estação da Liberdade,1992.
- Brandão, Junito de Sousa. Dicionário mítico-etimológico da mitologia grega. Petrópolis: Vozes, 1993.
- Branco, Lucia Castello, Brandão, Ruth Silviano. A mulher escrita. Rio de Janeiro: Milman, 1989.
- Derrida, Jaques. Gramatologia. São Paulo: Perspectiva, 1973.
- Heidegger, Martim. Heráclito. Rio de Janeiro: Dumará, 1998.
- Braga, Anderson. Sonata Poética. Belo Horizonte, Anome Livros, 2005.
- Bhabha, Homi K. O Local da Cultura. Editora UFMG, 1998.
- Benjamin, Walter. Magia e Técnica Arte e Política. Editora brasiliense, 1985.
- Poetasdelmundo em Poesias, Volume I, I Congresso Mundial de Poetasdelmundo, Natal, Um Mar de Poesia e Paz.
- Salgado, Rogério, Araújo, Virgilene. Poetas Em Cena. Belô Poético Produções Artísticas e Literárias. Belo Horizonte, 2012.
- Pena, Brenda Marques. Instituto da Imersão Latina. Nós da Poesia. All Print Editora, 2009.
16 de out. de 2019
Aos Sessenta
Há quase dez anos, escrevi este poema que permaneceu “engavetado” até hoje:
Biláh Bernardes
Biláh Bernardes
Não choro mais por impotência
sinto-me dona do nariz
e dos desejos
Comando a direção dos passos
Até quando os deixo e assumo
irem sem rumo
Os rumos dos pensamentos
aceitei que voem em mil
firmamentos
Não brigo com os sentimentos
raiva é normal e dura o tempo de vir à tona
o racional
Aprendi que existem impossíveis
mas posso, aos sessenta, tentar mudá-los
e tento!
9 de jun. de 2019
21 de abr. de 2018
Biografia e Bibliografia
Biografia
Bilá Bernardes é
o nome poético de Maria Angélica
Bernardes dos Santos. Nasceu em Santo Antônio do Monte em 22/01/1950, tendo sido registrada como Maria Angélica dos Santos, filha de José Rodrigues dos Santos e Maria Angélica Rodrigues. Vive em Belo Horizonte
desde 1970, onde trabalhou no magistério na rede pública estadula, na rede privada e rede municipal, onde se aposentou. Também em Belo Horizonte, fez o curso de Pedagogia e pós em Psicopedagogia. O último curso foi complementado com especialização em Clínica Psicopedagógica, com Alicia Fernández, em Buenos Aires.
Tem artigos sobre Educação e
Psicopedagogia publicados em revistas ( AMAEducando) e jornais em Belo Horizonte, na Revista E.PSI.B.A, em Buenos Aires e em sites.
Participou com poemas em
antologias no RS: Congressos Brasileiros de Poesia), em Belo Horizonte :
Poetas En/Cena: do Belô Poético e no Chile.
Seu poema Saber Hiperativo
foi publicado na revista EPSIBA em Buenos Aires (2006). Outro poema: Carregadores
ficou em primeiro lugar em um concurso pela internet do site Luz Poética e está publicado em Blocos Online.
Selecionada na Linha
Editorial Tela e Texto, da Faculdade de Letras - UFMG para o livro Belo Horizonte em Verso e Prosa, (2008), tem uma coletânea de poemas sobre aprendizagem publicados na Revista TXT,
(Ano 5, Número 9, Junho
de 2009)periódico virtual também da FALE - UFMG. Tem poemas no Projeto Leitura para Todos, parceria da
BHTRANS e A Tela e Texto (Teia de Textos) que circulam
em ônibus de Belo Horizonte e na cidade de Três Corações.
Tem poemas musicados por
Anand Rao, Cristiano Lima, Jônatas Reis, Carolina Inês e Régis D'Almeida..
Pertence à Academia de Letras
da cidade de Santo Antônio do Monte/MG-
ACADSAL e ao Clube de Escritores de Piracicaba/SP.
É Poeta del Mundo - Cônsul
do Estado de MG, desde 2009 - Movimento Poético pela Paz Mundial,
com origem e sede no Chile. Em 2010 foi
nomeada Embaixadora Universal da Paz pelo Cercle Universel
des Ambassadeurs de la Paix - Suisse / France, indicada por Clevane Pessoa.
Fez parte do Grupo Contar-te da Faculdade de Letras –
Programa Tela e Texto -UFMG; grupo que se reorganizou com o nome Gatopingado e fez apresentações que unem
teatro e poesia, tendo atuado no Poesia na
Praça 7 - projeto da Lei de Incentivo à Cultura; no Belo Poético; na
Bienal do Livro do RJ, em Maio de 2009 e Setembro 2011; em Lagoa da Prata-MG ;
no Parque Municipal e no Palácio das
Artes, entre outros espaços. Também atuou na Companhia Teatral Vil’Art, durante o ano de 2015.
Email: bilabernardes@gmail.com
RevistaTXT número 9. Junho 2009, Ficção, Coletânea:
Blogs: Além da Janela
Poetisa Bilá Bernardes Poemas em forma de cartões postais
Projetos Pedagógicos
Psicopedagogia em Poesia
Poetisa Bilá Bernardes Poemas em forma de cartões postais
Projetos Pedagógicos
Psicopedagogia em Poesia
Outros sites: Movimiento Poetas del Mundo
Alma de Poeta
Blocos Online
Poesia do Brasil/Minas Gerais
Recanto das Letras
Poetas do Brasil
Poesia 3x4
Alma de Poeta
Blocos Online
Poesia do Brasil/Minas Gerais
Recanto das Letras
Poetas do Brasil
Poesia 3x4
OBRAS
PUBLICADAS:
I-
Participação em Antologias:
Poesia do Brasil, vol. 4. /
vol. 6/ / vol. 7 out
2006/2007/2008. Bento Gonçalves: RS.
Poetas do Café, vol 2, out. 2006. Bento Gonçalves: RS
Bento, Poesia em América, vol 1 e 2
Poetas En/Cena, vol. 1. a vol.7/
Belô Poético. BH jul: 2007 a 2013
Pássaros Poetas e Trovadores, out 2007: Bento Gonçalves: RS
Poesia do Brasil, Bento Poesia
en América. Septiembre 2007. Roncagua: Chile
Belo Horizonte em Verso e Prosa. Linha Editorial A Tela e o Texto – Faculdade de
Letras/ UFMG- jan:2008
Poema:
Saber Hiperativo. Revista EPSIBA,
Buenos Aires: out 2006. p. 98-99
Poemas à Flor da Idade. Out 2008. Comunidade Poemas à Flor da Pele. Bento
Gonçalves: RS
Nós da Poesia. Vol. 1,2 e 5: 2009/2011/ 2016
Cena Poética vol 1 e 3: 2015 e 2017
AI-5 – org Rogério Salgado. Belo Horizonte: 2016
Entre-textos, vol 3/ Luiz Otávio Oliani – Porto Alegre: Vidráguas, 2016 –
pág 18 e 19
PARCERIAS
MUSICAIS:
Máscaras:
Música de Anand Rao
Tecituras:
Música de Cristiano Lima
Braços
Abertos: Música Jônatas Reis
Apesar
das Serras: Música Jônatas Reis
Andanças:
Cristiano Lima
Vida:
Carolina Inês
Loucura: Régis D'Almeida
Loucura: Régis D'Almeida
II-
Livros solo:
FotoGrafias
de DesCasamento, Belo Horizonte: Anome Livros: 2008
S A Monte de Minhas Lembranças. Belo Horizonte – MG: Edição da autora. 2018
Desvelamento, Sangre Editorial. Buenos Aires/AR/Belo Horizonte/MG 2019
Desvelamento, Sangre Editorial. Buenos Aires/AR/Belo Horizonte/MG 2019
Assinar:
Postagens (Atom)